quinta-feira, 10 de março de 2011

OH QUERIDA, GOSTO DE TI

 (Canção)
 Música: autor desconhecido
 Letra: 1.ª, 2.ª, 4.ª e 5.ª quadras de autor desconhecido;
3.ª e 6.ª quadras tipo popular
 Incipit: Uma simples amizade
 Origem: Coimbra
 Data: 1.ª metade do século XIX

 Uma simples amizade,
 Muita vez sem se pensar,
 Oh querida eu gosto de ti.
 Faz nascer a simpatia
Quem em amor vem a acabar.
 Oh querida eu morro por ti.

 Eu hei-de dar a meus olhos,
 Um rigoroso castigo;
Oh querida eu gosto de ti.
 Já que eles por bem não querem
Tirar de ti o sentido.
Oh querida eu morro por ti.

 Não posso viver sem ti,
Nem tu, lindo amor, sem mim;
 Oh querida eu gosto de ti.
 Vem cá, minha rosa branca,
 Vem cá para o meu jardim.
Oh querida eu morro por ti.

 Na desgraça de não ver-te
Não faz meu amor mudança;
Oh querida eu gosto de ti.
Quanto mais longe da vista,
Mais te trago na lembrança.
 Oh querida eu morro por ti.


 Tendes olhos de matar;
A boca, compadecida;
Oh querida eu gosto de ti.
 Pra que matais com os olhos,
 Se com a boca dais vida?
Oh querida eu morro por ti.

Oh! Olhos de amora preta,
Oh! Faces de rosa branca!
Oh querida eu gosto de ti.
 Houvera de me ter ido,
 Mas o teu amor me encanta.
 Oh querida eu morro por ti.

.
Nas estrofes, o 1.º verso é cantado e repetido, seguindo-se o mesmo esquema no 4.º verso. O 3.º e o 6.º versos funcionam como uma espécie de  refrão. As repetições e o refrão podem cantar-se em coro.

Sequência do canto em cada quadra com o refrão ínsito:

.
 Uma simples amizade,
Uma simples amizade,
Muita vez sem se pensar.
Oh querida eu gosto de ti.
Faz nascer a simpatia,
Faz nascer a simpatia,
 Que em amor vem acabar.
Oh querida eu morro por ti.


 Informação complementar:
.
 Modinha coimbrã vulgarizada, com resíduos literários árcades, em compasso
6/8 "andante" e tom de Ré Maior.

 Terá vindo dos salões aristocráticos para a rua. A solfa foi recolhida tardiamente, em 1878, e publicada por NEVES, César das - Cancioneiro de  Músicas Populares. Tomo I. Porto: Typographia Occidental, 1893 (em linha,  WWW:
http://purl.pt/742/1/mpp-21-a_3/mpp-21-a_item1/P16.html). Vem dedicada pelo recolector-editor "À Exma. Sra. D. Cândida Augusta Lopes".

 Com variantes, a mesma letra e notação constam em RIO, João do - Fados e canções de Portugal. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1909, págs. 146-148. De  acrescentar que João do Rio é um dos pseudónimos do jornalista e escritor  carioca João Paulo Emílio Coelho Barreto (1881-1921).

 Esta modinha, de inícios do século XIX, cantou-se profusamente nas  serenatas dadas na cidade de Coimbra, tendo perdido cultores no final de  oitocentos. Não se conhecem formações activas no século XX que a tenham  interpretado ou gravado.

 Espécime reconstituído em meados da década de 1980 pelo Prof. Doutor  Nelson Correia Borges na direcção artística do Grupo Folclórico de  Coimbra, formação que continua a interpretar esta composição nas serenatas  populares anuais (em linha, WWW:
http://www.gfcoimbra.com/cantigas.html).

 Reconstituição pelo Grupo Folclórico da Universidade de Coimbra/Casa do Pessoal, no CD Flores de Coimbra. Coimbra: Agitarte AGT 00399, ano de  1999, faixa n.º 12, com bandolim, cavaquinho, violão e rabeca.

 Esta composição foi harmonizada no Brasil por Achille Picchi.

 Algumas das quadras transcritas supra, viriam a ser sinalizadas por recolectores do século XX, próximas da lição conimbricense ou apresentando
 estropiamentos e recriações. Exceptuando a 3.ª e 6.ª quadra, que nos  parecem de urdidura popular, as demais patenteiam sabor árcade vazado em  conceitos e vocábulos que terão vindo dos salões para a rua. Confrontando  estas coplas com outras recolhidas no século XIX por José Leite de Vasconcelos e Teófilo Braga, pode concluir-se que o tipo de representações mentais, de organização do pensamento poética, de estruturação frásica e de concordâncias cantados em Oh querida eu gosto de ti não são  propriamente populares nem espelham ainda os aportamentos típicos do  Romantismo poético-literário de formulação oitocentista.

 A 1.ª desta silva de cantigas reaparece bastante reformulada no fado Desgarrada, gravado em 1930 por António Menano, à compita com Joaquim  Campos e Ercília Costa: Duma leve simpatia,/Muitas vezes sem querer,/Vai  crescendo tanto e tanto/Que d'amor nos faz morrer.

 Da 2.ª vireram a dar notícia o Cancioneiro Transmontano e Alto-Duriense,  p. 338, e Fernando de Castro Pires de Lima, em Cancioneiro, p. 142: Eu  hei-de dar a meus olhos/Um rigoroso castigo,/Já que eles, por bem, não  querem/Tirar de ti o sentido.

 Na transcrição, para distinguir as quadras do refrão, foi este destacado  em itálico-sublinhado.

 Transcrição: Octávio Sérgio (2011)
 Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes



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