Missa de 7º
dia pelo Dr. Luiz Goes:
2ª pelas 19
h , na Igreja Matriz de Cascais
3ª pelas 19
h na Igreja S. João de Deus em Lisboa- junto da praça de Londres.
3ª pelas 19
h na Sé do Porto, antecedendo
um pequeno concerto 18:15h, em
homenagem a este, nos claustros da sé.
Relembro
que a Academia do Porto, decretou luto académico e estará em peso nesta singela
homenagem.
COIMBRA- A
confirmar - (desconheço para já alguma iniciativa confirmada mas penso ser na
Igreja de St Cruz pelas 19 h igualmente uma missa com o mesmo propósito)
Permitam-me
uma breve escrita na manhã em que recebi a notícia triste de um amigo que
partia. (desculpem os erros.. é muito extenso
para corrigir)
O Dr. Luiz
Goes, para além do belíssimo espólio de letras e músicas que nunca se apagará
nem esquecerá, e que será certamente um marco e referência na história da
música de “matriz Coimbrã” (como ele gostava de chamar), pois nunca o
deixaremos esmorecer, cantando e tocando para a eternidade, deixou acima de
tudo um testemunho pessoal.
Este, (LG),
marcou e pautou a sua vida por uma sempre boa disposição, altruísmo, e num
gesto humilde, sempre a agradecer um qualquer convite, quando deveríamos ser
nós a agradecer a sua sempre disponibilidade, amabilidade e carinho. Importa
pois relembrar não só o seu testemunho enquanto poeta e músico mas acima de
tudo pela pessoa que foi.
Estarei na
frente desta senda e sempre disponível como ele me ensinou, mas não poderemos
deixar esmorecer esta data de reflexão sobre quem foi Luiz Goes, o que é o fado
(de Coimbra particularmente, mas distinguir claramente e objetivamente do de
Lisboa), sua história, sua evolução, suas particularidades e identidades
resultantes de uma mescla, contínua e subtil ou por vezes abrupta mudança,
acompanhando os tempos e as músicas a par das culturas ou identidades culturais
por vezes tão opostas.
Sem querer
fazer uma história ou contar da mesma o que pouco sei, (que outros o farão
melhor) sobre o fado de Coimbra, são as raízes populares de tantos estudantes que partindo
das suas terras, que fizeram nascer uma nova cultura musical que se
eternizou no tempo.
Levaram das
suas terras os seus temas e cantigas, ritmos e sonoridades musicais tão
díspares quanto o panorama cultural português de então. Estávamos no início de
século XX.
Partiam com
a dúvida de voltarem a não ser no Natal. Cartas trocadas, essas sim, contam a
verdadeira história de “Zeca Afonso” ou de um qualquer estudante em Coimbra até
ao terceiro quartel do século XX.
A estação
era local de muitas lágrimas de pais que sonhavam um dia ter um filho DOUTOR.
As
repúblicas eram a sua casa, as ruas a sua aldeia… e todos juntos, com um trajo
igual não denotavam as diferenças entre tão diferentes estudantes.
Um de
Mortágua, outro de Famalicão, um pobre outro rico, mas chegavam os dois á
estação e trocavam olhares que comprometiam uma vida inteira.
Vozes como
Edmundo Bettencourt, Francisco Menano ou António Menano, entre muitos, foram
apenas os que primeiro registaram, um certa característica própria da música - O
fado - que ás vezes ainda se confundia sem poder dizer fado de Lisboa ou de
Coimbra ou do Porto.
Passámos
pelas vozes de tenor onde as serenatas “à capela” tornaram célebres os ecos nas
paredes de uma velha sé. Mas eram poucos!! Os que cantavam e os que ouviam!
A luz era
um só qualquer ponto no céu ou umas tochas a queimar e fazer mexer as sombras
das capas que por si já bracejavam na noite.
As
serenatas à donzela sob a janela, trinando caixas de madeira que serviam para
marcar compassos e fazer qualquer coisa como acordes desafinados para encobrir
uma ou outra nota mais surda. O recolher e as formas precisas de dobrar a capa
dentro da pasta….
Tantas
histórias que atento, ouvia de meus pais
(…)
Uma velha
guitarra em forma de coração explicava a letra do Hilário.
A “prima Amélia”
ensinava-me temas como “Maria se fores ao baile”, “eu vi a Amélia”, “fado
serenata”, ou “meia-noite ao luar”.
A minha mãe
recontava histórias que viveu com meu pai em Coimbra. Ouvia o meu pai cantar em
velhas gravações numa fita em bobine tão gasta pelo tempo como pelas vezes
incontáveis que a fiz girar. Menino d’oiro, samaritana, Sepúlveda e tantos
outros…
Na
faculdade fugia às quintas para poder cantar em Coimbra, num espaço que já nem
encontro, 1910…
(…)
Passaram os
anos das serenatas, anos de um Fernando Rolim, mas igualmente de um António
Bernardino. Ouviram-se outras vozes, barítonos e outros tantos, baixaram-se os
tons, diminuíram os vibratos, aumentaram os portamentos, romperam-se os
melismas e a 7ª sílaba tónica.
Aumentou-se
a caixa e o braço, dotando o trinar e o vibrato de uma melódica sonoridade
inconfundível e que distinguiu de vez o som estridente e barroco do fado
lisboeta.
Apareceram
os “Paredes”, e os poetas mais eruditos. Cantaram-se os poetas e aos poetas.
Fizeram-se poetas e musicaram-se os poemas e os poetas.
Deixaram as
quadras e apareceram os tercetos.
Mas algo
ainda não temos!! O compasso binário!!, apenas uma ou outra valsa de um António
Brojo.
Graças a Deus
ou aqueles que ainda, com a saudável (mas contida e sem pretensiosismos)
evolução da canção coimbrã, fizeram permanecer a identidade e característica
incontornável da nossa canção coimbrã.
Chegaram os
tempos em que a poesia não foi calada. E com ela se disse o que não poderia ser
dito. Chamaram-se nomes com sorriso na voz, enquanto outros discutiam como
roubar a fome a quem a tinha de tão pouco restava.
Chegou o
“…tempo do amor onduloso”, e numa “elegia”, se narrava a história de um povo e
de uma cultura.
Chegaram
“Zecas” e “Adrianos” e outros tantos desenganos, que num “tempo breve” se fez
ouvir a voz de quem padecia de um olhar real sobre a triste sina portuguesa.
Eram
aqueles que partiam, “naquela alegre e clara madrugada”, eram pescadores e
vestes pretas de “viúvas sós” que juntamente com o luto de quem cantava na sua
voz, as histórias de outros tantos que sofriam e não tinham voz.
Chegaram as
baladas, as autoestradas. A estação dava lugar aos parques de estacionamento.
“Do Choupal até á Lapa” vista apenas pela janela de um táxi que já nem é preto
de capa ás costas com as copas no tejadilhos a refletir o verde dos choupos.
A realidade
é outra!!. Os tempos e culturas igualmente. Rituais modernos que as pedras
velhas não conseguem acompanhar.
O que é velho
já não importa. È trôpego e antiquado. As velhas quadras simples são simples
demais e desadequadas ao contexto… mas também não se lê mais poesia!! nem
sequer se lêem devagar os poemas cantados!!... Que bonitos eles são!!… e
afinal, um “Homem só meu irmão”, ou uma “canção pagã”, ou uma “romagem á Lapa”
saudosa, de tão contemporânea e atual que é até perigosa se torna!!.
Agora, as
tertúlias e os ”copos” deram lugar ao virtuosismo “Paganiniano”…
Urge pois
recontar a história. Cantar os poetas mas ouvir os avós, Passar o “tempo que
não passa” á volta da lareira… e são os poucos resistentes e que ainda a podem
contar os mais responsáveis.
São aqueles
que viveram as histórias que têm o dever de se fazer ouvir, para que as histórias
não se calem e não se inventem outras histórias sobre a história desta
história.
Aos vivos,
que me contem para eu poder contar…
Aos mortos,
que me inspirem para eu poder viver…
E com eles
eu possa sentir que a história que ouvi de meus pais não morreu!!!
A ti “meu
querido” numa quase herege expressão: “juro e jurarei, cantarei até à morte”!
A ti, Luiz
Goes que me deste a honra em te conhecer, que junto do meu pai estarás
certamente, “canta, canta amigo canta, ao voo de uma ave ou a um rio”!..
Talvez a Lapa
cante e em pedra grave a tua alegria…
Que aqui
cantarei sempre por ti.
Nuno
Oliveira Montalto
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