quarta-feira, 8 de junho de 2011

Comentário ao Post do dia 20 de Maio

Estimado Senhor, o facto deste blog se interessar pela guitarra de Coimbra, partilhando informação de pessoas que me parecem conhecedoras, animou-me a escrever.
Esta exposição, com a recriação da oficina que Raul Simões tinha no nº 9 do Bairro de Santana, veio provocar na família o debate sobre a autoria da reforma da guitarra de Coimbra, cuja memória permanece ligando Artur Paredes a Raul Simões. Artur Paredes era assíduo frequentador da casa-oficina de Raul Simões, e por vezes até o acordava a meio da noite com uma nova ideia. Desta relação entre guitarrista e guitarreiro está associada, na memória familiar, a renovação da guitarra de Coimbra com "uma sonoridade mais toeira", sem decorações de madrepérola, e com uma caixa mais estreita. Raul Simões também dominava a construção da viola toeira, para além de ser um excelente executante, salvo erro do "Estaladinho", que gravou para Michel Giacometti, cuja foto está publicada na obra de Ernesto Veiga de Oliveira (Instrumentos Musicais Populares Portuguesa, foto 148). Mas, lamentavelmente, Raul Simões não faz parte da história oficial dos construtores de guitarra de Coimbra, como se tivesse sido apagado. Talvez o fenómeno se deva ao isolamento que viveu em Coimbra até aos anos 70, ao seu temperamento difícil, pouco social, aliado ao perfeccionismo que punha em todos os seus trabalhos, ou talvez pelo incómodo que causava aos seus clientes quando sujeitos a um inquérito sobre o instrumento que pretendiam comprar, ou por nunca ter partilhado com os filhos os segredos da arte, por a considerar ingrata como meio de subsistência, levando os filhos a radicarem-se em Lisboa noutras actividades profissionais. Apenas a filha Deolinda Simões Vilaça Lacerda permaneceu em Coimbra, onde casou com Armando Vilaça Lacerda e foi funcionária da Câmara Municipal. Desta forma, a arte de Raul Simões (herdada do pai) e permanentemente aperfeiçoada, nasceu e morreu com ele, no esquecimento. Embora esta exposição venha legitimar o seu lugar na história, este está espartilhado num discurso redutor de "o último violeiro de Coimbra". A que Raul Simões, se fosse vivo, responderia com mágoa: "-Fui copiado vergonhosamente!", pois acontecia comprarem-lhe instrumentos com o único objectivo de os desmanchar e copiar. Por tal, agradecia todas as informações que pudesse recolher junto das suas fontes coimbrãs, sobre as guitarras construídas por Raul Simões. Com os melhores cumprimentos.


Dulce Simões

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