sábado, 31 de março de 2012

António Luzio Vaz foi homenageado pelo Coro dos Antigos Orfeonitas. Por razões de saúde não me foi possível estar presente, pelo que lhe presto aqui a minha homenagem. Obrigado Luzio, por tudo que nos proporcionaste.
Diário de Coimbra de ontem.

Tunas Estudantis em Portugal

Acabado de sair. Penso que será uma boa obra. Os autores são respeitáveis.
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terça-feira, 27 de março de 2012

COIMBRA tem uma canção

Domingo, 18 de Março de 2012
Carta aberta à Dissertação sobre o Fado de Coimbra, intitulada “Coimbra quer ter uma Canção?”, por Conceição Abreu, no Diário de Coimbra de 02 de Março de 2012, que pode ser lida na integra na entrada no blogue do Mestre Octávio Sérgio, da mesma data[1].

1. Motivação
Vou começar com a ressalva do costume (já sei, é a minha bengala caligráfica de forma a conseguir esquivar-me de alguma susceptibilidade com o que vou dizer, mas cada um com as suas, não é assim?). Eu não sou um estudioso, nem tão pouco me considero algum tipo de autoridade para com aquilo a que me proponho a escrever, e assumo-me muito capaz de não moldar a mente de pessoa nem coisa alguma, apenas tudo isto serve de tentar desembaraçar o que tanto se fala como sendo isto, ou aquilo, e relegando aquilo que não é. Demasiado vago? Já irei tratar de por os pontos nos i’s, j’s, e qualquer outra letra que padeça do referido.

2. O deferimento do que se escreve
Começando por uma análise, meramente ela analítica (perdoem-me a redundância) e de cariz pessoal, com a referida dissertação, eu vou seguir a estrutura do mesmo e comentar - a meu jeito e com o que vou lendo, que não é tão pouco quanto isso - o que foi dito e não dito aqui. É esse o único objectivo desta minha carta.

3. O texto

3.1 A introdução
Começa com um parágrafo um tanto ou quanto idílico e repleto de simbolismo, dando a abrir razão à exclusão da definição de FADO do FADO de Coimbra.

“Há uma conversa entre guitarras, mas não é fado”.

Com certeza, mas o que é FADO mesmo? É algo que alguém instituiu como sendo o FADO de Lisboa? Curioso aqui acompanhar os vários países latinos, greco-romanos - de onde a própria guitarra portuguesa advém - onde os vários estilos de musica popular, não são de Atenas ou de Creta, não são de Buenos Aires ou de outra qualquer cidade argentina. É música popular grega, é TANGO, ele mesmo património da humanidade, tem tantas ou mais vertentes que o FADO de Portugal (ou Lisboa?)[2].

“Há diferenças e por isso Lisboa não pode defender uma canção que não é dela, é de Coimbra”.

Fico confuso, pensava eu as Guitarras serem feitas em qualquer lado, e em qualquer cidade se cantar, ouvir, e apreciar, FADO.

À - magnífica - imagem do TANGO, as diferenças existem, nós vemos, e eles também. E conseguem viver com isso numa harmoniosa comunhão que nada mais faz que fazer vencer o nome da sua arte fora das suas fronteiras.

“Foi aqui que nasceu um género musical diferente de todos os outros. O toque é inconfundível e a aprendizagem é de transmissão oral. Os olhos de um comunicam com os dedos de outros, e há duas guitarras em diálogo. Não é FADO, é canção de Coimbra.”

Mais uma vez, confusão. Não consigo perceber, em que ponto estas afirmações distanciam o FADO de Coimbra do de Lisboa, se tanto, os aproximam! O som é diferente, o tocar é definitivamente diferente, o cantar também. Mas falemos a quem de Lisboa e muita gente de Coimbra, do FADO de Coimbra, se isto não se vive também no meio do FADO de Lisboa. A aprendizagem é de transmissão oral? Meramente oral? E o mérito daqueles que dedicam o seu tempo e a sua arte, a escrever o FADO e peças de Guitarra para assim as gerações seguintes as possam interpretar?

O pormenor “há duas guitarras em diálogo”, se se está a referir em exclusivo ao FADO de Coimbra revela um constrangimento de quem não ouve FADO de Coimbra desde o período dos anos 70, e certamente nunca ouviu o de Lisboa. Quer no FADO de Lisboa, quer no FADO de Coimbra, vemos tantas vezes duas Guitarras, como uma Guitarra, como até a viola sozinha ou outro instrumento qualquer. Voltemos ao exemplo da partitura do FADO Samaritana de Álvaro Cabral, escrita inicialmente para piano.

Mas o folclore dos Açores que tão diferente é do do Minho, deixa de ser denominado folcore português por serem de zonas diferentes?

Até ao ponto continuo só aqui a navegar numa amálgama de definições.

3.2 Seguindo
“Incluir o Fado de Coimbra na candidatura do Fado a Património Mundial seria subalternizá-lo e fazer dele um apêndice do Fado de Lisboa”.

Ao que me parece é nesta frase que esta dissertação assenta as suas ideias. Não querendo de alguma forma desrespeitar o autor da referida (Rui Vieira Nery), parece-me que esta definição está só na cabeça de quem quer fazer do FADO de Coimbra o símbolo do elitismo da Universidade de quem lá andou, duma cidade, quando o FADO e a Guitarra de Coimbra são de todos nós, são de Portugal.

Querem trancar em Coimbra o que não é de todo possível de fechar.

Vejamos pois então, quantos os estudantes que chegados das suas terras levam para Coimbra as influências do folclore, moldam no caldeirão cultural que é e foi Coimbra e exprimem-se musicalmente desta forma. Podemos dizer que o FADO de Coimbra, é tudo menos subalterno do que quer que seja, subsiste como género musical derivado de um folclore e de um FADO, um FADO, português.

Seguindo a leitura desta dissertação, posso deparar-me com dúvidas e mais dúvidas. Sobre as quais, não há um esclarecimento a não ser pelos que dia, após dia, tocam e fazem FADO de Coimbra.

“A Canção de Coimbra já existia antes do Fado, mas não é Fado”.

Fica a pergunta: - De onde e como chega esta afirmação?

“Durante 10 anos, entre 1969 e 1979, a Canção de Coimbra calou-se, nem uns nem outros a cantaram, um período de silêncio que ainda não foi explicado.”

Terá sido pelo que diz António Pinho Brojo numa entrevista tornada pública - pelo menos para mim - no blogue do Mestre Octávio Sérgio[3]?

AMN: É correcto afirmar-se, como às vezes se diz, que em 1969 se produziu o disco “Flores para Coimbra”, os cantores desertaram e tudo acabou?
APB: A Crise de 1969 provocou um “bouleversement” em Coimbra.
AMN: A linha clássica era apodada de “reaccionária” e de “fascista”…
APB: Exacto. O fado tradicional e a guitarra foram identificados com o regime, com uma carga negativa. Mas nunca até aí o fado tradicional e a guitarra tinham sido identificados com o regime. Normalmente no meio havia contestatários. Muitos guitarristas e cantores eram tipos normalmente não “arregimentáveis”. É evidente que se dizia “é um fado reaccionário”, “é um fado conservador”. É o próprio regime ou as figuras afectas ao regime que agarram o fado de Coimbra armados em protectores, independentemente, meu caro Nunes, de um certo feitio sempre conservador do antigo estudante de Coimbra.
AMN: Assiste-se efectivamente a uma dispersão de cultores com a Crise de 1969?
APB: Há uma dispersão e uma desmotivação dos cultores. 1969 foi um momento tremendo.
(...)
APB: Eu senti-me ameaçado na 1ª Serenata que houve em 1978 na Sé Velha, manifestação de pujança a que vieram todos os de fora cantar, até os que eram de 2º plano, vieram todos. Nessa serenata do 1º Seminário eu senti-me ameaçado, por um grupo que havia ali de extrema-esquerda, que se juntava no Café Oásis, que gritava… enfim. Não posso dizer que tenha sido agredido, mas o ambiente era extremamente hostil. Posso dizer-lhe que eu me orgulho, com o Jorge Gomes, com o Portugal, com o Dourado, com o Correia, com o Mesquita, de ter lutado bravamente para que não morresse o fado.
Ninguém na Academia estava informado – tinha havido um hiato enorme, de 1969 a 1976, já tinha havido praticamente duas gerações académicas que não tinham sabido absolutamente nada sobre o fado.
Tomemos a opinião de António Pinho Brojo, antigo vice-reitor da Universidade de Coimbra, como se calhar a mais válida que podemos conseguir, não tivesse ele estado na luta pela preservação do FADO de Coimbra como ele próprio lhe chama.
Não posso deixar de comentar a assertividade com que Jorge Cravo diz: “Falta tudo”. Sendo que o mesmo texto afirma que o mesmo entrou para a comissão cientifica da candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial com o propósito e a causa de defender a Canção de Coimbra “porque esta é a única oportunidade, não existirá outra”, gostaria de saber o que correu mal neste processo, dado a noticia da RTP - entre outros - que dá conta de um “Fado de Coimbra de fora da candidatura a Património Imaterial da Humanidade”[4].

Do meio dos que tocam, e cantam, o FADO de Coimbra, ouviam-se ecos de que poderia isto ser o “divórcio irreparável”.

Deixando os parágrafos que se seguem da dissertação, dado serem afectados pela observação anterior, fica só a chamada de atenção para as guitarras, que apesar das suas diferenciações têm uma origem comum, na cítara greco-romana[5], e a Guitarra de Lisboa como estilo demarcado da congénere de Coimbra, cai cada dia mais em desuso, verificando até aqui a unificação, e comunhão de duas coisas que de tão diferentes que são não o deixam de ser, FADO. Não podendo deixar de salientar também a preciosa explicação sobre os aspectos técnicos e práticos diferenciadores do FADO de Coimbra e de Lisboa, pois são informações às quais as pessoas na sua generalidade lhe são alheias.

Não obstante, voltaremos aos tipos de TANGO e não saíramos do que parece ser o ciclo infinito dos estilos diferentes do mesmo género musical ou dos géneros musicais distintos. Aos musicólogos o que é de musica.

Começamos a chegar ao cerne da questão barrada de um fraseado quase harmonico-melódico que diz muito sem embora chegar a grande lugar.

“Não podemos estar à espera que seja Lisboa a divulgar uma canção que não é sua”.

Certamente.
Mas se bem me lembro a candidatura foi de Lisboa por ser a capital portuguesa a distinguir um meio de declaração cultural que é o FADO, neste caso de Lisboa. Eu próprio fiquei bastante revoltado, sentindo-me eu próprio ostracizado por o FADO de Coimbra não ser incluído nesta candidatura. Nós, como portugueses, e não de Coimbra, Lisboa, ou Porto, podemos estar à espera, como até podemos exigir que Lisboa, como nossa capital olhe para o que a rodeia, neste caso o FADO de Coimbra. Ou não somos todos portgueses e Lisboa a nossa capital?

“Nas últimas três décadas Coimbra fez pouco para merecer a sua Canção”.

Com argumentos destes, concordo plenamente.

“A própria cidade está divorciada da sua Canção, e se o cidadão comum não tropeçar na Canção de Coimbra, não pode fazer nada para defender esta marca porque não está motivado, não sabe quem a toca, não sabem quem a canta e nem a percebe. Há muito a fazer pela Canção de Coimbra”.

Há tanto para fazer pela canção de Coimbra, que pelo FADO de Coimbra nem é vale a pena entrarmos em trapalhices orto-numéricas, que iríamos ganhar uma dor de cabeça maior que aquela que é fazer as contas aos impostos a pagar todos os anos.

Quando nos vídeos de apresentação da Universidade de Coimbra, esquecemos o FADO, e chamamos os autores populares no corrente, algo de muito mal se passa. Quando afirma-mos e reafirma-mos a pés juntos que o FADO de Coimbra não existe entramos em pé de guerra com os nossos próprios pés. Fartando-nos de darmos tiros nos mesmos, tantos que hoje já não conseguimos caminhar convenientemente.

Que dirão as gentes de Coimbra, sobre isto? Que dirão as gentes de Coimbra, as tricanas, se se afirmar acérrimamente que o FADO de Coimbra não existe, nem que tão pouco é indissociável da capa e batina dos estudantes.

Que dizer a Flávio Rodrigues, Artur e Carlos Paredes (para nomear somente alguns).

Querem ver o FADO de Coimbra nas bocas do mundo, voltem a chamar-lhe FADO!

3.3 Nota pós-liminar
# Sobre o que é referido neste texto para o futuro, não posso deixar de concordar que se peça que “o público encha as grandes salas de espectáculo e que venha ouvir a Canção de Coimbra”.
# Sobre a perspectiva de as mulheres e o FADO de Coimbra, também considero uma visão válida como qualquer outra, a frase “quando a rapariga quiser cantar a Canção de Coimbra, ninguém a vai proibir”, bastará elas quererem. Não posso estar mais de acordo.

3.3.1 Dívidas Passadas
A defensa de os “profissionais não anulem os amadores, porque o futuro da canção de Coimbra não se pode afastar do amadorismo que a fez nascer”, parece-me aqui vir de encontro uma opinião também ela publicada por Jorge Cravo contra a remanescência do FADO de Coimbra em formato de partitura, sendo que o próprio Mestre Octávio Sérgio e o Dr. Rui Pato - duas figuras enormes do meio da musica Coimbrã - não são de acordo, dado este veículo promover a preservação da mesma história e património original dos FADOS e guitarradas de Coimbra[6]. Estamos aqui a entrar um bocado em contradição? Expor e preservar o material em partitura não garante a visão do futuro do FADO e da Guitarra de Coimbra?


[1] Octávio Sérgio, Guitarra de Coimbra IV - Sexta - Feira, 2 de Março de 2012, http://guitarrasdecoimbra2.blogspot.pt/2012/03/dissertacao-sobre-o-fado-de-coimbra-por.html
[2] Wikipedia, Estilos de Tango, http://pt.wikipedia.org/wiki/Tango#Estilo_do_tango
[3] António M. Nunes, Duas horas de conversa com António Brojo, http://guitarradecoimbra.blogspot.pt/2006/08/duas-horas-de-conversa-com-antnio.html
[4] Rádio Televisão Portuguesa, Fado de Coimbra de fora da candidatura a Património Imaterial da Humanidade,, http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=503900&tm=4&layout=122&visual=61
[5] Pedro Caldeira Cabral, A Guitarra Portuguesa, http://www.youtube.com/watch?v=KN6RfaRtMrI
[6] Octávio Sérgio, Guitarra de Coimbra III - Segunda - Feira, 19 de Julho de 2010, http://guitarracoimbra.blogspot.pt/2010/07/jorge-cravo-em-mais-uma-abordagem.html Imprescindivel aqui a opiniao de Octávio Sérgio, Rui Pato e João Paulo Sousa.

Ângelo Correia

Do Blog Cantos e Variações: http://cantosevariacoes.blogspot.pt/

Talvez pouca gente saiba que as primeiras baladas do Zeca foram "cozinhadas" no Bairro de Bom João em Faro, onde deu aulas na antiga EscolaTomás Cabreira, morou, próximo do Liceu João de Deus...e onde cantava e "filosofávamos" muitas vezes à noite, com a malta amiga, no Verão, no pequeno claustro exterior da  Ermida de Santo António do Alto...
José Maria Oliveira

Na Aula Magna com o Grupo Jurídico de Canto e Guitarra de Coimbra no Sarau comemorativo dos 50 anos da Crise Académica de 62 - Evocação de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.

Vemos como instrumentistas: Levy Baptista (v), David Leandro (g),  Lopes de Almeida (g), António Toscano (v).
A cantar: Nascimento Ferreira, António José Rocha e Arménio Santos.