Guitarra de Coimbra IV
Continuação dos Blogs I, II e III (I - guitrradecoimbra.blogspot.com) (II - guitarrasdecoimbra.blogspot.com) (III - guitarracoimbra.blogspot.com)
sábado, 23 de junho de 2012
Os" Trovas do Minho" – Grupo de Fados e Cantares de Coimbra, foram convidados a
actuar, na Serenata que todos os anos se realiza no último dia das festas de
S. Bento na cidade de St. Tirso.
Pela tradição deste evento, pela sua antiguidade, adesão e envolvência do público, pela elevada qualidade artística dos grupos que por este evento têm passado, tal convite, mais do que uma honra, é o corolário do empenho e dedicação dos "Trovas do Minho", á Canção de Coimbra.
Pela tradição deste evento, pela sua antiguidade, adesão e envolvência do público, pela elevada qualidade artística dos grupos que por este evento têm passado, tal convite, mais do que uma honra, é o corolário do empenho e dedicação dos "Trovas do Minho", á Canção de Coimbra.
Luís de Campos
sexta-feira, 22 de junho de 2012
André Madeira
FESTIVAL INTERNACIONAL DE GUITARRA DE SERNANCELHE
COM CONCFERTO DE ANDRÉ MADEIRA - EM DIRETO NA ANTENA 2
http://www.rtp.pt/antena2 , Artigo do seu
interesse: http://tv2.rtp.pt/antena2/?t=Festival-de-Guitarra-de-Sernancelhe.rtp&article=2333&visual=2&layout=5&tm=2&source=mail
quinta-feira, 21 de junho de 2012
terça-feira, 19 de junho de 2012
CASA DA ACADÉMICA
EM LISBOA
COMEMORA CONQUISTA DA TAÇA.
JANTAR TERTÚLIA,
DIA 20 DE JUNHO, NO CASINO ESTORIL.
A
Casa da Académica em Lisboa vai comemorar a conquista da Taça de Portugal no
próximo dia 20 – precisamente um mês depois daquele sucesso – com um jantar
tertúlia, no Casino Estoril.
Os
adeptos da Briosa vão homenagear e ter como convidados de honra os atletas, a
equipa técnica e a direcção que protagonizaram e tornaram possível este
empolgante feito.
Os
órgãos sociais da Casa da Académica pretendem que esta Tertúlia seja um momento
único de orgulho e confraternização académica, oportunidade para evocar sonhos e
conquistas, outras taças e finais, páginas inesquecíveis da Cultura e da
Vivência da nossa BRIOSA.
Partilharão connosco esta comemoração Antigas Glórias e
outras referências da BRIOSA, honrando deste modo este feito maior que ficará
gravado para todo o sempre e que a Briosa “ousou” repetir 73 anos
depois!!!
A
assinalar esta iniciativa, irão estar em exposição, no Casino Estoril, as Taças
de 1939 e a de 2012!!!
Programa:
20.00h – “Coimbra de
Honra”.
21.00h – Jantar.
22.12h – Cerimónia Briosa. Celebrar a conquista da Taça
de Portugal 2011/12.
Homenagem aos Atletas, Equipa Técnica e
Direcção.
- A Taça de
1939.
As Finais de 1951, de 1967 e de
1969.
A Taça de
2012.
- Jamor, 20 de Maio. A Taça é Nossa!!!
Um
vídeo para guardar e recordar.
- Hino da Briosa.
23.45h – “Grupo Jurídico do Canto e da Guitarra de
Coimbra”.
00.10h – Despedida. “Coimbra tem mais
Encanto”.
Apelamos a uma grande participação dos Sócios, pois
queremos uma Tertúlia de Festa e de grande confraternização
académica.
Divulga e traz um Amigo
também!
INSCRIÇÕES – até ao dia 19 de Junho para: Alfredo
Ribeiro 967 004 992, Gustavo Cerdeira 966 066 303, Joaquim Freire 914 958 224,
Tito Costa Santos 936 268 568, Joaquim Couto 918 780 660. Preço: 30
“briosas”.
Cordiais Saudações
Académicas,
Joaquim Couto
Casa
da Académica em Lisboa/Presidente
segunda-feira, 18 de junho de 2012
EGVF dos Antigos Orfeonistas
VIMOS POR ESTE MEIO CONVIDAR TODOS OS
ALUNOS, EX-ALUNOS, FAMILIARES E AMIGOS A PARTICIPAR/ASSISTIR À AUDIÇÃO FINAL DA
ESCOLA DE GUITARRA, VIOLA E FADO DE COIMBRA / AAOFUC.
A AUDIÇÃO TERÁ LUGAR AMANHÃ, TERÇA-FEIRA, DIA 19 DE JUNHO DE 2012 PELAS 19H00, NA SEDE DO CORO DOS ANTIGOS ORFEONISTAS / EGVF (Rua Bernardim Ribeiro, 36) .
A AUDIÇÃO TERÁ LUGAR AMANHÃ, TERÇA-FEIRA, DIA 19 DE JUNHO DE 2012 PELAS 19H00, NA SEDE DO CORO DOS ANTIGOS ORFEONISTAS / EGVF (Rua Bernardim Ribeiro, 36) .
(Tlm: 936 440 482 Tel: 239 721 996
)
CONTAMOS COM A VOSSA PRESENÇA!
CONTAMOS COM A VOSSA PRESENÇA!
P´LA DIREÇÃO EGVF
A
propósito de um duplo CD editado pelo “Fado ao Centro”
Jorge
Cravo[1]
Como
coleccionador, adquiri o duplo CD “fado de Coimbra: fados & guitarradas” /
vol. 2, da Associação Cultural e Artística do Centro “Fado ao Centro”, também
designada por “Centro Cultural/Casa de Fados – Fado ao Centro”.
Trata-se de um
trabalho composto por 41 temas, dos quais 21 cantados e 20 peças para Guitarra
de Coimbra. Todavia, algumas correcções terão de ser anotadas em defesa da
autenticidade da Canção de Coimbra.
No que diz
respeito a títulos e autorias dos temas, mais uma vez o público fica mal
informado. Continua a reinar uma enorme confusão neste campo, porque quem grava
não se informa, desrespeita quem criou o quê, e, muitas vezes, dá como autor
quem canta, ou cantou o tema, numa falta de rigor histórico que, infelizmente,
continua presente em muitos discos. Vejamos, pois, uma série de estropiamentos que
devem ser denunciados e corrigidos.
(1) Fado
dos Olhos Claros (faixa 1). O tema não é só de autoria de Edmundo de
Bettencourt (letra); a música é de Mário Faria Fonseca. Não se percebe por que
razão alguns temas têm os autores da letra e da música, e outros, só o autor
(es) da letra.
(2) Avé
Maria (faixa 3). O título do soneto foi já deturpado, nos anos 50, na gravação
de Luiz Goes. O original, gravado nos anos 20 por Armando Goes, tem como título
“Rezas à Noite”.
(3) Saudades
de Coimbra (faixa 5). A autoria não é de Edmundo de Bettencourt. A letra é
do poeta António de Sousa e a música de Mário Faria Fonseca.
(4) Meu
Fado (faixa 8). O título não está completo. Falta-lhe o artigo definido “O”
– O Meu Fado!
(5) Fado
da Mentira (faixa 10). O autor não é António Menano. A música é de
Alexandre Resende; a 1ª quadra é de autor desconhecido e a 2ª quadra é popular.
(6) Fado
das Andorinhas (faixa 11). A autoria não é só de Paradela de Oliveira.
Paradela fez a música e é co-autor da letra, ao lado de João Carlos Celestino
Pereira Gomes.
(7) Trova
do Vento que Passa (faixa 13). A música não é só de António de Portugal,
mas também de Adriano Correia de Oliveira.
(8) Os
Sinos (faixa 14). O título não está correcto. “Quando os Sinos Dobram” é o
verdadeiro título.
(9) Inquietação
(faixa 15). Face às quadras gravadas e, em abono da verdade, esta “Inquietação”
não é a de Edmundo de Bettencourt. Vejamos: em 1927, Paradela de Oliveira
gravou um tema intitulado “Um Fado de Coimbra”, com quadras de autor
desconhecido: a 1ª quadra, “És linda mas… foras feia”, e a 2ª, “És loura,
branca e tão linda”. Em 1928, Bettencourt gravou um tema, a que deu o título de
“Inquietação”, com quadras da sua autoria: 1ª quadra (“Quanto mais foges de mim”)
e a 2ª quadra (“Todo o bem que não se alcança”). Ambos os temas têm a música de
Alexandre Resende. Aqui, neste disco, cometeu-se o mesmo erro que José Afonso,
em 1980, e gravaram-se, como se fosse a “Inquietação” de Edmundo de
Bettencourt, a 1ª quadra de Paradela (de autor desconhecido, com a alteração de
“mas” para “se”) e a 2ª quadra de Bettencourt (“Todo o bem que não se alcança”).
Assim, e não sendo Bettencourt, o autor de toda a letra deste “Inquietação”,
deveriam ter sido mais explícitas as autorias: 1ª quadra (autor desconhecido), 2ª
quadra (Edmundo de Bettencourt), e não, “entregar” a autoria da letra
exclusivamente a Bettencourt.
(10) Fado dos Beijos (faixa 16). O autor não é Luiz Goes. Este Fado é um
Fado de Lisboa – o “Fado Tango” de Joaquim Campos – que teve arranjos do
próprio Goes ao transpô-lo para o Cancioneiro de Coimbra, mas em que o seu ADN
lisboeta continua perceptível.
(11) Coimbra Menina e Moça (faixa 17). A música, de Fausto Frazão, é do
“Fado da Récita de Despedida do V ano médico de 1919-1920” , com quatro quadras de
Américo Cortez Pinto, ambos quintanistas desse curso. Só a 1ª quadra foi gravada
por Edmundo de Bettencourt. A 2ª quadra é popular. Pergunto: como é que o
Edmundo de Bettencourt pode ser autor também da música, se ele só chegou a
Coimbra em 1922 e a música é de 1920?
(12) Balada da Despedida do 5º ano de Medicina de 1948 (faixa 19). O
título não está correcto. É sabido que, na gíria académica de Coimbra, as
baladas de despedida de Medicina e de Direito são referidas como baladas do “5º
ano médico” e do “5º ano jurídico”, como há tantos exemplos, e não, como
baladas de despedida de Medicina ou de Direito. Quanto mais, e seguindo alguns
exemplos de décadas recuadas, poderemos também designá-las por “Baladas da
Despedida dos Quintanistas de Medicina” ou “dos Quintanistas de Direito”. Há um
vocabulário e alguma terminologia próprios da comunidade académica que não vem
mal nenhum ao mundo se se mantiverem! Neste caso, e segundo a partitura,
editada em 1949, temos como título: “Balada da Despedida do 5º ano médico de
1948/1949”. Estreou-se em 6 de Abril de 1949, no Teatro Avenida, por ocasião da
Récita dos Quintanistas de Medicina.
(13) Balada de Despedida do 5º ano Jurídico. O título vem mutilado da
indicação de qual 5º ano Jurídico é esta Balada. Ninguém é obrigado a saber o
ano. Logo: “Balada da Despedida do 5º ano jurídico de 1988/89” seria o mais
correcto.
Conclusão: em 21
temas cantados, 13, ou seja, mais de metade, têm erros de títulos e autorias que
poderiam ter sido facilmente evitados, se os responsáveis pelo projecto tivessem
pesquisado e lido alguma coisa sobre Canção de Coimbra. Não são só turistas a
adquirir os discos e um pouco mais de seriedade e de responsabilidade nas
edições discográficas seriam muito bem vindas!
Relativamente ao
disco das variações/guitarradas (CD 2):
(1)
Canção de Alcipe (faixa 10). Não é de Carlos Paredes. É música de Afonso
Correia Leite para o filme de Leitão de Barros, “Bocage” (1936). Foi Artur
Paredes que a harmonizou para Guitarra de Coimbra mas nunca a gravou. A
primeira gravação foi de António Portugal, sob o título “Pavana”, em 1966.
Carlos Paredes gravou-a em 1971.
(2) Cantiga
para Quem Sonha (faixa 15). Toda a gente que gravita na “galáxia sonora
coimbrã” sabe que esta Canção não é de Luiz Goes. Os seus autores são Leonel
Neves (letra) e João Gomes (música). Tratando-se de uma interpretação à
Guitarra da música desta cantiga, o mínimo exigível é que aparecesse o nome do seu
autor.
(3) Canção
do Ribeirinho (faixa 19). Esta peça instrumental não é da autoria de Flávio
Rodrigues. Trata-se de uma música para uma revista de Lisboa que Artur Paredes
harmonizou para Guitarra de Coimbra e gravou em 1957. Não consta que Flávio
Rodrigues a tenha gravado ou que fizesse parte do seu repertório.
Alguns
reparos também terão de ser feitos, no que diz respeito às músicas e letras
cantadas, pois estropiam-se textos e melodias em demasia para que se possa levar
a sério um trabalho desta envergadura. Eis algumas das adulterações que mais se
evidenciam.
(1) Fado
dos Olhos Claros. O início do 1º verso da 2ª quadra está errado: não é “Um
olhar de claridade”, mas sim, “Ao olhar da claridade”; assim como o 2º
verso da mesma quadra está errado: não é “olhar de luar e de água”, mas
sim, “olhar de luar e água”. A única alteração possível na letra, diz respeito
a este mesmo 2º verso, pois Bettencourt gravou e editou uma outra versão do
tema, em que cantou “olhar de luar na água”.
(2) Balada
do Mar (faixa 2). Adulterado o 3º e 4º versos da 2ª quadra. Não é, “Verás
velas acenando / Lá longe, o meu queixume”, mas sim, “Verás velas
a acenar / Ao longe, o meu queixume”.
(3) Rezas
à Noite. No 3º verso da 1ª quadra a palavra a cantar é “costumada” e não
“acostumada”; está errado o 2º verso da 2ª quadra: não é “que já seus pais,
outrora, haviam tido”, mas sim, “tinham tido”; o 2º e 3º versos do 1º
terceto estão errados, não é “balbuciando baixinho e descuidosa / Essa
prece (…)”, mas sim, “balbuciava baixinho e descuidosa / Esta prece (…)”; e no
3º verso do 2º terceto, não é “Rogai por o nosso amor”, mas “Rogai p’lo nosso
amor”, para além da música em “para sempre” estar adulterada!
(4) Saudades
de Coimbra. No 2º verso da 1ª quadra não é “que eu lá tive”, mas
sim, “que lá tive”; a música da parte final do 4º verso (“não vive”) não está
correcta; na 2ª quadra, na repetição do 3º verso, não há nenhum “E a
sombra”, mas apenas “A sombra”; e a música volta a não estar correcta em
“flores”.
(5) O
Meu Fado. A música surge adulterada em “mais” (repetição), “letras”
(repetição), “amor”, “que a morte” e “uma”.
(6) Fado
das Andorinhas. A música está adulterada no 4º verso de cada quadra.
(7) Feiticeira
(faixa 12). Melodia adulterada em “a vida inteira”. No 2º verso da 2ª
estrofe, não é “sonho lindo esse que eu tive”, mas sim, “sonho lindo
este que eu tive”. A repetição do último verso desta estrofe não é, “eu vivi
p’ra te beijar”, mas “e eu vivi…”.
(8) Trova
do vento que passa. No 4º verso da primeira quadra, não é, “E o
vento nada me diz”, mas sim, “O vento nada me diz”. No 2º verso da 3ª quadra,
não é “Em tempos de servidão”, mas sim, “Em tempo de servidão”.
(9) Quando
os sinos dobram. A música do 4º verso de ambas as quadras está adulterada
nas palavras “perdeu” e “quem”.
(10) Fado dos Beijos. A melodia está adulterada na repetição do “se” (1º
verso da 1ª quadra) e na repetição da sílaba “pre” de “preferia” (1º verso, 2ª
quadra). No último verso da 2º estrofe, há uma “rasteira” de Luiz Goes que só
ouvidos muito atentos, ou com o recurso a auscultadores, é que é possível
detectar. Da primeira vez canta “Mas sem beijar-te isso não” e, na
repetição, canta “Mas sem beijar isso não”.
Igualmente fiquei
deveras surpreendido com a falta de rigor interpretativo e o fraco desempenho
de alguns cultores que, no folheto que acompanha a caixa, se afirmam
possuidores de “um vasto curriculum neste estilo musical (…)”. Quando se dizem
ter “como missão principal promover e divulgar o Fado e a Guitarra (Coimbra/Lisboa
[?]) com base em padrões de alta qualidade [?]”, fico deveras apreensivo e
pergunto-me se tudo isto não passará de uma grande trapalhada para turista, já
que o texto de apresentação também nos surge em inglês!
Tendo em conta
diversos temas cantados, alguns aspectos vocais e interpretativos merecem-me
também alguns reparos gerais.
(1)
Exageros
vocais sem qualquer interesse nem acrescento à interpretação. Bem pelo
contrário, os temas ficam arrastados, sem expressão, sem acutilância, e só se
poderá compreender tal abuso para satisfação do próprio ego de quem canta e para um exibicionismo doentio do próprio órgão
vocal.
(2)
Canto
demasiado afectado, fruto de uma colocação de voz bastante influenciada/viciada
pelo canto lírico. Acontece que a Canção de Coimbra não é Ópera. Embora tenha
influências da música erudita, desde as modinhas ao “lied”, estas
reminiscências diluem-se, quando em contacto com a maneira de cantar mais
popular, acabando por vir ao de cima o cunho regional e local da tradição
musical coimbrã, de tal maneira que este estilo vocal erudito – voz
semi-operática – acaba despercebido embora lá esteja. Não sejamos tão elitistas
ao ponto de fazer perder as fortes ligações da Canção de Coimbra à maneira de
cantar, à dicção e “ao dizer os versos” do filão popular da cidade.
(3)
Quem
ouve alguns temas deste disco, fica com a ideia que, com uma voz a média
intensidade e um recurso pontual, mas bastante frequente, à surdina e ao
falsete, qualquer um canta todo o repertório de Coimbra, basta escolher uma
tonalidade, não digo confortável, mas “preguiçosa” e, sem esforço, tudo se
canta.
(4)
Há
temas em que se assiste a uma certa fadistagem na interpretação, sem desprimor
para o Fado de Lisboa.
Conclusão
De um total de
21 temas cantados, surgirem 15 temas, com estropiamentos de títulos e autorias,
adulterações de letras e músicas, leva a que seja um bocado atrevido falar-se
“de alta qualidade” num trabalho que apresenta tanto tema impróprio para
consumo. É que, com tantos erros, estamos perante um duplo disco que não tem interesse
para quem se queira dedicar à Canção de Coimbra com honestidade artística,
apenas servindo os intuitos comerciais e turísticos do projecto “Fado ao
Centro”.
Escreveram na
capa do duplo CD que estamos na presença de “uma das obras mais completas do
Fado de Coimbra”, naturalmente tendo em conta, também, o volume 1. Pois bem,
embora com os seus defeitos, eu continuo a preferir a antologia “Tempo (s) de
Coimbra” de António Portugal e António Pinho Brojo (47 peças vocais e 23 instrumentais).
Como responsáveis
do projecto do “Fado ao Centro” e, particularmente, deste Duplo CD, esperava
muito mais do Luís Carlos Santos (v.), que conheço bem, do Luís Barroso (g.),
que de promessa nos anos 90 espero que não passe a desilusão, e do João Farinha
(c.), que, embora estejamos em desacordo em muitos aspectos desta Canção (para
mim), Fado (para ele), tem antecedentes familiares nesta música para saber mais
sobre a matriz vocal coimbrã e como melhor respeitá-la.
Espero
que o vosso profissionalismo dê para crescerem em qualidade e não o contrário!
E já agora, e
para terminar, em tom de brincadeira, um conselho/alerta: guitarristas e
violas, cuidai-vos!!! Por aquilo que se ouve no início da 6ª faixa, não tardará
muito a chegar o dia em que estarão “desempregados”. Será a “paga” por alguns
de vós dizerem que os cantores são um mal necessário?
domingo, 17 de junho de 2012
Fado das Lágrimas
FADO DAS LÁGRIMAS (vulgo Fado das Águias)
Música: atribuível a Manassés de
Lacerda Ferreira Botelho (1885-1962)
Letra: Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco
(1825-1890)
Incipit: Oh fonte que estás chorando
Origem: Coimbra (?)
Data: ca. 1903-1904
Oh! fonte que estás chorando,
Não tardarás a secar
Mas os meus olhos são fontes
Que não param de chorar.
Oh! triste da minha vida,
Oh! triste da vida minha,
Quem me dera ir contigo
Para onde tu vais, andorinha.
Oh! águia que vais tão alta
Por essas serras d’além,
Leva-me ao céu onde eu tenho
A alma de minha mãe.
Canta-se o 1.º dístico,
repete-se; canta-se o 3.º verso, repete-se; canta-se o 4.º e
repete-se.
Esquema do
acompanhamento:
1.º dístico: Si m, Mi m || 2.ªSi, Si m (1.ª
vez)
1.º dístico: Si m, 2.ªMi, Mi m || Si m, 2.ªSi, Si m (2.ª
vez)
3.º verso: 2.ª Ré, Ré | 2.ª Ré, Ré
4.º verso: 2.ª Si, Si m | 2.ª Si, Si m.
Informação
complementar:
Serenata em compasso 4/4 e tom
de Lá Menor, do período Belle Époque, inserta na 1.ª série de «Fados e Canções Portuguezas cantadas por
Manassés de Lacerda para cylindros e discos de machinas falantes», editada
no Porto pela casa Arthur Barbedo, Rua do Mousinho da Silveira, 310-1º, ca.
1906, série que na altura custava 600 réis. A coleção completa compreendia três
séries de 10 composições cada. Posteriormente, em 1914, estas três séries foram
reeditadas pela casa Moreira de Sá, também do Porto. Nelas não há qualquer
indicação quanto a autores, quer das músicas, quer das letras.
As quadras transcritas supra,
acrescidas de uma 4.ª (Rouxinol canta de
noite) apareceram publicadas por Camilo Castelo Branco (cf. Serões de São Miguel de Seide, 1885) e
foram primeiramente musicadas por José Viana da Mota, no tema «Pastoral» no ano
de 1895. «Pastoral. Opus 10, N.º 1», veio publicada no fascículo «Cinco canções
Portuguezas para canto e piano», tendo atingido pelo menos a 12.ª edição na
Sassetti & Ca.
Entre 1898 e 1903 as mesmas
quadras foram também integradas no «Fado de Braga», de autor anónimo, cuja solfa
circulou na «3.ª série de 12 cantos populares. 12 fados para piano». Porto: Casa
Eduardo da Fonseca. Porém, «Fado de Braga», em compasso 4/4 e tom de Dó menor, é
melodicamente distinto do Fado das Lágrimas aqui transcrito.
Em 1906, as referidas quatro
quadras integraram o «Fado da Récita de
Despedida dum Grupo de Quintanistas de 1905-1906», cantado por Custódio José
Vieira, com música de António Dias da Costa. Neste caso, estamos em presença de
uma melodia diferente da cantada por Manassés de Lacerda, que comporta coplas
soladas e refrão.
Serenata gravada em 1905, em
Lisboa (?), pelo próprio Manassés de Lacerda, com acompanhamento de piano (Disco
Gramophone, 62385;
idem, 3-62292).
Manassés vocaliza as quadras a
solo com a seguinte sequência, sendo necessários oito versos para cantar a
melodia:
Oh! fonte que está chorando,
Não tardarás a secar
Oh! fonte que estás chorando,
Não tardarás a secar
Mas os meus olhos são fontes
Mas os meus olhos são fontes
Que não param de chorar
Que não param de chorar.
Esta mesma composição foi
gravada pelo barítono Arthur Trindade, com o título «Fado Luiz d’Oliveira», em
1.4.1910 no Disque Pour Gramophone G. C. 52458 (de 25cm), em Lisboa, com
acompanhamento de piano. A etiqueta é omissa em autorias de música e de letra.
Trindade canta a seguinte letra:
Na branca areia do mar
Teu nome um dia tracei
O mar levou-mo cem vezes
(Ai) Cem vezes lá o gravei.
Subi ao céu e sentei-me
Duma nuvem fiz encosto
Dei um beijo numa estrela
(Ai) Julgando ser o teu rosto.
Os teus olhos negros, negros
São gentios da Guiné
Da Guiné por serem negros
(Ai) Gentios por não terem fé.
O registo referenciado supra
aparece comercializado no fonograma Zonophone X 52458 (de 25cm). As três quadras
gravadas por Trindade são extraídas do cancioneiro popular. A 3.ª era cantada
nos Açores e em Coimbra, tendo integrado o «Fado Serenata» de Augusto Hylario
(1894). O esquema do canto, em 4/4 e Si menor, é idêntico ao do «Fado das
Lágrimas»: canta-se o 1.º dístico, repete-se; canta-se o 3.º verso, repete-se;
canta-se o 4.º verso, repete-se. Porém, a linha melódica constitui já uma
variante face à composição original.
Temos notícia de um terceiro
registo do «Fado das Lágrimas» efectuado por Luiz Ferreira, na cidade do Porto,
em 1911 (78 rpm Favre 10842-0) que canta apenas a 1.ª e a 3.ª quadras e altera
dois versos da 3.ª quadra (d’além ==»
levada e mãe ==» amada).
Serenata gravada pelo barítono
Alfredo Bicker de Andrade Mascarenhas (Portimão, 1882; New Bedford, 1943),
cantor lírico com carreira internacional, no fonograma «Fado Serenada», Lisboa
(?), Disco Odeon n.º 43089, antes de 1922 (ca. 1916-1917), com acompanhamento de
piano, sem indicação alguma de autorias. Ao contrário de Manassés, de Luiz
Ferreira e de Arthur Trindade, Alfredo Mascarenhas canta e repete o 2.º dístico
de cada quadra. Canta em 4/4 e Si menor, mas a melodia é uma variante ainda mais
acentuada face ao original. A letra que gravou é a seguinte:
Já o luar se levanta,
Só tu minha preguiçosa
No teu leito cor-de-rosa
Assim desprezas quem canta.
Quem espera sempre alcança:
Diz um ditado traidor.
Eu espero e desespero
Não alcanço o meu amor.
Teus olhos contas escuras
São duas avé-Marias
De um rosário de amarguras
Que eu rezo todos os dias.
Do céu à terra é um passo;
Da vida à morte é um ai;
Do meu peito ao teu peito
Tamanha distância……………
A 1.ª quadra era a 2.ª do «Fado
de Montemor», integrante do reportório Manassés de Lacerda. É da autoria do
poeta popular de Coimbra Adelino Veiga (Cf. A lyra do trabalho, 1886, p. 128). A 2.ª
quadra é popular. A 3.ª quadra é do poeta e antigo estudante de Coimbra Augusto
Gil (Cf. Livro de versos, 1898),
tendo sido retomada na década de 1960 por José Miguel Baptista. A 4.ª parece ser
igualmente popular, não se conseguindo perceber e transcrever na íntegra devido
à degradação do fonograma e à dicção do próprio cantor.
Serenata gravada pelo cantor
Augusto Lopes no Rio de Janeiro, no mês de janeiro de 1928, com o título
adulterado para «Fado da Águia», no disco de 78 rpm Parlophon 12.858-A, master
2034, identificando como autor Manassés. Augusto Lopes gravou no Rio de Janeiro
amostragem significativa de composições do reportório Manassés, vocalizando-as
conforme as novidades interpretativas lançadas pelo próprio Manassés nos alvores
do século XX. Admite-se que este cantor, ou membros da formação instrumentística
que o acompanharam, fossem coevos da estadia de Manassés na cidade do Porto ou
então que tenham conhecido os registos que efectuou em 1913 já radicado no
Brasil (?).
Esta melodia, com algumas
modificações, com a designação vulgar de «Fado das Águias», viria a a ser
transmitida oralmente ao estudante José Afonso pelo também estudante de Medicina
Augusto Camacho Vieira nos finais da década de 1940. Segue-se a respectiva ficha
de inventariação, com notícia do título vulgar:
FADO DAS
ÁGUIAS
Música: atribuível a Manassés de Lacerda Ferreira
Botelho
Letra: 1.ª quadra de Camilo
Ferreira Botelho Castelo Branco; 2.ª quadra de Fernando de Lemos Quintela
(1946)
Ó águia que vais tão alta
(Ai2) Por essas serras
d’além,
Leva-me ao céu, onde eu
tenho
(Ai1) A alma de minha mãe.
As lágrimas que eu chorei
(Ai2) Leva-mas porque são
puras,
São as preces que eu rezei
(Ai1) Com saudades e
ternuras.
Canta-se o 1.º dístico, repete-se; canta-se o 2.º dístico e
neste apenas de repete o último verso.
Esquema do acompanhamento:
1.º
Dístico: Si m, 2.ªMi, Mi m ||| 2.ªSi m, Si m;
2.º
Dístico: 2.ªRé, Ré ||| 2.ªSi, Si m;
Último verso: 2.ªSi, Si m.
José
Afonso, quando ainda estudante de Histório-Filosóficas na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, gravou esta composição em 1952, sob o título
«Fado das Águias»,
acompanhado à guitarra por António Brojo (1.ª g)/António Portugal (2.ª g), e em
violões de cordas de aço por Aurélio Reis/Mário de Castro (disco de 78 rpm
MELODIA, 15.097, de 78 rpm). O arranjo de acompanhamento é da autoria de António
Pinho Brojo. No citado fonograma, e nas subsequentes reedições, consta sempre o
nome de José Afonso como autor da música e da letra, o que é
falso.
Sequência do canto na lição de José Afonso
(1952):
Ó
águia que vais tão alta
Por
essas serras d’além,
Ó
águia que vais tão alta
(Ai)
Por essas serras d’além,
Leva-me ao céu, onde eu tenho
A
alma de minha mãe
(Ai)
A alma de minha mãe.
Gravações do registo José Afonso disponíveis em extended play:
-Alvorada, MEP 60050, editado em 1957 e
Melodia, EP-85-5,
editado em 1972.
E em
long play:
-LP
Alvorada, LP-04-17,
Alvorada, ALD 503 e
Aquila, AQU
02-52).
Em
compact disc:
-CD
«José Afonso – De Capa e Batina». Lisboa: Movieplay, JA 8000, 1996, faixa
n.º 1;
-CD
«Fados e Guitarradas de Coimbra». Lisboa: Movieplay, MOV. 30.332/A, editado
em1996;
-Col. Um Século de Fado/Ediclube, CD N.º 6/Coimbra.
Lisboa: EMI 7243 5 20640 2 1, editado em 1999.
A
letra original da 1.ª quadra é a que acima se apresenta, uma vez que José Afonso
gravou uma variante aprendida de outiva. A 2.ª quadra é da autoria do estudante
Fernando Quintela, o Poeta Quintela,
de seu nome completo António Fernando Rodrigues de Lemos Quintela, que conviveu
com Augusto Camacho na República Palácio
da Loucura e que fez a quadra a pedido do próprio Augusto Camacho, que
queria cantar esta composição na 1.ª Serenata de Coimbra que seria transmitida
pelo Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional em dezembro de
1946.
Artur Paredes também aproveitou a música do Fado das Lágrimas para a
guitarrada “Cantares Portugueses”: 45 rpm «Artur Paredes».
Lisboa: Alvorada, MEP 1961, acompanhado por Carlos Paredes (2.ª g) e Arménio
Silva (v). Remasterizado no CD «Artur Paredes». Lisboa: Movieplay, MOV 30.480,
2003, faixa n.º 7.
Outros registos:
-«Fado das Águias», lição de José Afonso, EP «O sol anda lá
no céu». DECCA, PEP 1.231, s/d [década de 1960], canta Ângelo Fernandes
acompanhado por Armando Retto, Arnaldo Abreu e Joaquim dos
Anjos.
-«Fado das Águias», lição de José Afonso, EP «Fado Corrido
de Coimbra». Porto: OFIR, AM 4.101, ano de 1968, canta António Bernardino
acompanhado por Nuno Guimarães (1.ª g), Manuel Borralho (2.ª g), Jorge Rino/Rui
Borralho (vv). Reedição no LP OFIR MAS 329. Remasterização no CD «Fados e
Baladas de Coimbra. Recordando Nuno Guimarães». Porto: OFIR, DSA-CD-401, ano de
1997, faixa n.º 10, com indicação de “Popular. Arr[anjo] Rui
Pato”.
-«Fado das Águias», lição de José Afonso. Canta Américo
Lima, cantor ativo em Lisboa na década de 1960, LP «Coimbra Romântica», Request
Records, RLP 8065.
-CD
«Coimbra de Sempre – Raul Dinis». Lisboa: Discossete, 971000, 1993, faixa
n.º 10, acompanhado por António Ralha (1.ª g), Jorge Gomes (2.ª g) e Manuel
Borralho (v). Indicação de “DR” [Direitos Reservados], sinal de que os membros
desta formação sabiam que a obra não fora composta por José Afonso mas não
dispunham de dados sobre o verdadeiro autor.
-
«Fado das Águias», pela lição de José Afonso, registo do fadista ativo no
Porto
Valdemar Vigário – CD Audio CD de
1993.
-CD
«Mar Lágrima – Grupo Madeirense de Fados de Coimbra». s/l [Funchal], s/d [2000],
canta Luis Filipe Costa Neves.
-Sutil Roque – CD «Os Amigos», Lisboa, EMI 7243 5 82063 2
6.
-«Fado das Águias», CD «Coimbra d’ontem, Coimbra d’ hoje».
Coimbra: Aeminium AE 003, 2001, faixa n.º 7. Canta José Neves, acompanhado por
António Jesus (g).
-«Fado das Águias», CD «Coimbra é uma saudade». Coimbra:
Aeminium AE 002, 2002, faixa n.º 5. Canta Mário Gomes Pais acompanhado por
António Jesus/Carlos Jesus (gg) e Paulo Larguesa/Bernardino Gonçalves
(vv).
Presenças no youtube (junho de 2012):
-José Afonso/«Fado das Águias»/registo de 1952, http://www.youtube.com/watch?v=MsZ9_EY2bu8 .
O
processo de revisão da autoria desta composição foi suscitado junto da Sociedade
Portuguesa de Autores em 2004 a propósito da gravação do vulgarmente chamado
«Fado das Águias» por Ribeiro da Silva: CD «Coimbra Menina e Moça». Lisboa:
2004, faixa n.º 4. Canta Luís Ribeiro da Silva acompanhado por Teotónio
Xavier/Carlos Couceiro (gg) e Durval Moreirinhas/António Toscano (vv). De acordo
com os documentos disponíveis à data e entregues à SPA por José Anjos de
Carvalho, as evidências remetiam para o músico António Dias da Costa e para a
composição «Ó águia/Fado de Despedida do 5.º ano jurídico de 1906». A SPA
aceitou rever a situação, tendo ficado provado em 2004 que o chamado «Fado das
Águias» era anterior ao nascimento de José Afonso (1929). Novo estudo sobre a
origem e abordagens orais desta composição, consubstanciado na presente ficha de
inventário, prova que o vulgarmente chamado «Fado das Águias»:
a) é um
derivado do «Fado das Lágrimas», testemunhando um processo idêntico à situação
configurada pelo «Fado do Mar Largo», do Dr. Paulo de Sá, e pelo seu derivado
conhecido por “A água da fonte é louca”;
b) a
sua radicação nas comunidades de prática masculinas de Coimbra e do Porto é
muito anterior ao nascimento de José Afonso;
c) pese
embora sem provas irrefutáveis, assumimos que o nome mais consistentemente
posicionado quanto à autoria desta composição é Manassés de
Lacerda.
Não
deve confundir-se a presente composição com um tema do Fado artístico de Lisboa,
«Fado das Lágrimas» (Gota d’agua que ao brilhar) gravado por Fernanda Peres em
1958.
Transcrição:
Octávio Sérgio (2012)
Pesquisa e texto:
José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes
Agradecimentos: Dr.
Jorge Rino, Dr. Augusto Camacho Vieira, José Moças (TradiSom)
(Ver Post ADENDA no dia 3-11-2012 - http://guitarrasdecoimbra2.blogspot.pt/2012/11/fado-das-lagrimas.html)
Som da partitura em MIDI
http://soundcloud.com/oct-vio-s-rgio-azevedo/fado-das-l-grimas/s-YtYyi